Nome da professora: Lucielma
Disciplina: Língua Portuguesa
Assunto: Conto - O retrato oval de Edgar Allan Poe
Data: 15/06/2020
Olá estudantes!
Desejo que estejam bem!
Vamos trabalhar com o conto fantástico, escolhi o conto de Edgar Allan Poe um contista marcante do século XIX, esse conto narra uma história muito intrigante, a linguagem é bem diferente da que usamos hoje. Desejo uma ótima leitura á todos, enviem apenas as respostas das questões propostas. Dúvidas nos comentários do blog ou no e-mail.
Até breve!
Se cuidem!
Devolutiva: 22/06/2020
Enviar no e-mail: lucielma@prof.educacao.sp.gov.br
Conto: O
Retrato Oval
Edgar Allan Poe
O castelo no qual
meu criado estava decidido a entrar à viva força, não consentindo que eu,
ferido como estava, tivesse que passar a noite debaixo da chuvarada, era um
grande edifício senhorial e melancólico, que durante muitos e muitos séculos,
fora grito de guerra nos Montes Apeninos. Segundo nos disseram, tinha sido
abandonado temporariamente por seus donos.
Acomodamo-nos
numa das salas menores, que era também a mais modestamente mobiliada. Estava
situada num torreão um tanto afastado do corpo principal do castelo; seus
móveis, seus adornos, ricos e luxuosos, pareciam maltratados pela ação do tempo
e apenas conservavam poucos vestígios do antigo esplendor.
Sobre
as paredes caíam tapeçarias e troféus heráldicos, bem como grande quantidade de
quadros modernos encerrados em molduras de ouro e madeiras finíssimas. Devido
talvez ao delírio que me produzia a alta febre, senti crescer dentro de mim um
grande amor por aqueles quadros que como prodigioso e estranho museu, tinha
diante dos olhos.
Mandei
o criado fechar as pesadas portas e as altas janelas, pois era noite cerrada, e
acender o candelabro de sete braços que encontrara sobre a mesa. Descerrei, em
seguida, os cortinados de cetim e veludo que rodeavam o dossel de minha cama.
Queria
assim, se por acaso não chegasse a conciliar o sono, distrair-me ao menos na
contemplação dos quadros na leitura de um livro de pergaminho que havia
encontrado sobre a almofada, o qual parecia conter a descrição e a história de
todas as obras de arte que se achavam encerradas naquele castelo.
Passei
quase toda a noite lendo. Naquele livro estava realmente a história dos quadros
que me rodeavam. E as horas transcorreram rapidamente e, sem que eu percebesse,
chegou a meia-noite. A luz do candelabro me feria os olhos e, sem que meu
criado o notasse, coloquei-o de tal modo que somente projetasse seus tênues
raios sobre a superfície escrita do livro. Mas aquela troca de luz produziu um
efeito inesperado. Os resplendores das numerosas velas projetaram-se então
sobre um quadro da alcova que uma das colunas do leito até então tinha envolto
numa sombra profunda. Era o retrato de uma jovem quase mulher. Dirigi ao quadro
uma olhadela rápida e fechei os olhos.
Não
o compreendi bem a princípio. Mas, enquanto minhas pupilas permaneciam
fechadas, analisei rapidamente a razão que mas fazia cerrar assim. Era um
movimento involuntário para ganhar tempo, para assegurar-me de que minha vista
não me tinha enganado, para acalmar e preparar meu espírito para uma
contemplação mais serena. Ao cabo de alguns momentos olhei de novo para o
quadro, desta vez fixa e penetrantemente.
Já
não podia duvidar, ainda que o quisesse, de que então via muito claramente. O
primeiro esplendor da chama do candelabro sobre a tela tinha dissipado a
confusão de meus sentidos e chamara à realidade. O retrato era de uma jovem. Um
busto; a cabeça e os ombros pintados nesse estilo que chamam, em linguagem
técnica, estilo de “vinheta”; um tanto da “maneira” de Sully em suas cabeças
prediletas. O seio, os braços e os cachos de cabelos radiantes fundiam-se
imperceptivelmente na sombra que servia de fundo ao junto. A moldura era oval,
dourada e trabalhada ao gosto moderno. Como obra de arte não se podia encontrar
nada mais adorável do que a própria pintura. Mas pode ser que não fosse nem a
execução da obra nem a beleza daquele semblante juvenil que me impressionou tão
súbita e fortemente. Devia acreditar ainda menos que a minha imaginação, saindo
de um sonho, tivesse tomado aquela mulher por uma pessoa viva.
Vi,
em primeiro lugar, que os pormenores do desenho, o estilo e o aspecto da
moldura não me deixariam nenhuma ilusão, ainda que momentânea, dissipando
imediatamente semelhante encantamento. Fazendo estas reflexões, permaneci
estendido uma hora inteira, com os olhos cravados no retrato.
Tinha
adivinhado que o “encantamento” da pintura era uma expressão vital,
absolutamente adequada à própria vida, que primeiro me tinha feito estremecer e
que finalmente me subjugara, aterrorizado. Com um terror profundo e
insopitável, coloquei de novo o candelabro na sua primitiva posição.
Tendo
ocultado assim a minha vista a causa dessa profunda agitação, procurei
ansiosamente o livro que continha a análise do quadro e sua história. Fui em
busca do número que designava o retrato oval e li o seguinte relato:
“Era
uma jovem de rara beleza e cheia de jovialidade. Maldita foi a hora em que viu
e amou o artista, casando-se com ele! Ele, apaixonado, estudioso, amava, mais
do que sua esposa, a sua Arte; ela, uma jovem de rara beleza e não menos amável
do que cheia de jovialidade – nada mais do que luz e sorrisos – ágil como a
lebre solta no campo – amando e acariciando todas as coisas – não odiando mais
do que a Arte, que era sua rival – não temendo mais do que a palheta e os
pincéis. Foi uma coisa terrível para ela ouvir o pintor falar do desejo de
pintar sua esposa. Mas esta era obediente, e sentou-se com doçura durante
longas semanas no sombrio e alto “atelier” da torre, onde a luz penetrava por
uma claraboia de cristal. Mas ele, o pintor, punha seu destino e sua glória no
retrato, que avançava em cores de hora para hora e de dia para dia…
E
ele era um homem apaixonado e estranho, que se perdia em sonhos, tanto que “não
queria” ver que a Luz que filtrava tão lugubremente naquela torre afastada,
extenuava a saúde e a alma de sua mulher, que enfraquecia visivelmente aos
olhos de todo o mundo, exceto aos dele.
Contudo,
ela sorria sempre, sem se queixar, porque via que o pintor sentia um prazer
doido e ardente na sua tarefa e trabalhava noite e dia para pintar aquela que
amava tanto, mas que se tomava de dia para dia mais lânguida e mais débil. E,
na verdade, os que contemplavam o retrato falavam em voz baixa da extrema
semelhança do original como de uma prodigiosa maravilha e como de uma prova não
menor do talento do pintor do que de seu profundo amor por aquela a quem
pintava ato milagrosamente bem.
Todavia,
mais tarde, quando a tarefa se aproximava de seu fim, já ninguém podia visitar
a torre: o pintor tinha enlouquecido com o ardor de seu trabalho e não tirava
os olhos da tela senão para ver a fisionomia da mulher. E “não queria” ver que
as cores que gravava na tela ele as ia tirando das faces daquela que estava
sentada à sua frente. E quando, decorridas muitas semanas, já faltava muito
pouco trabalho – nada mais do que uma pincelada sobre os lábios e uma sombra
sobre os olhos – o espírito da mulher palpitou como a chama próxima a
extinguir-se palpita numa lâmpada; e então o pintor deu a pincelada sobre os
lábios e a sombra sobre os olhos e, durante um momento, quedou em êxtase ante o
trabalho que tinha realizado; um minuto depois, quando o olhava extasiado, um
estremecimento de terror percorreu seu corpo e começou a gritar com voz aguda e
destemperada.
–
É a vida, é a própria vida que eu aprisionei na tela!
E,
quando se voltou para contemplar sua esposa, viu que ela estava morta.”
Edgar
Allan Poe. O gato preto e outros contos. São Paulo: Hedra, 2008. p. 65-9.
Análise do conto
01 – De acordo com o texto, qual o
significado das palavras abaixo:
· À mourisca:
· Filigrana:
· Apeninos:
· Arabesco:
· Nicho:
· Bruxulear:
· Torreão:
02 – Esse conto pode ser dividido em
duas partes, e em cada uma se narra uma história passada em um tempo diferente.
a) Quais são os
principais acontecimentos de cada uma das partes?
b) Qual é a mais antiga e qual é
a mais recente?
03 – O narrador é um
elemento importante para marcar as duas histórias. Como esse recurso aparece no
conto?
04 – Em “O retrato oval”, uma
combinação de fatores cria o suspense, elemento fundamental em seu enredo. Um
desses fatores é a forma de apresentar o espaço ao leitor.
a) Com base nas
palavras do narrador, indique as características do castelo.
b) De acordo com o texto, quais
são as características do quarto:
c) Em geral, quais os traços
predominantes nesses espaços?
05 – Qual é o
elemento que contribui para construir o suspense nesse conto?
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