Prof. Me. Horácio - Geografia - 3°série


2º Bimestre do ano letivo de 2020: Geografia.
Prof. Me. Horácio José de Souza Neto.
Gmail: horaciojose@prof.educacao.sp.gov.br
Entrega da atividade: 22/06/2020

Atividades pedagógicas de geografia para o desenvolvimento de aprendizagens durante o período de reclusão social.
OBS: as atividades estarão agregadas ao email institucional como repositório das aulas que já foram trabalhadas pelo Centro de Mídias SP na respectiva semana letiva.

Respondam as atividades no arquivo Word (Fonte 12, Arial, Espaçamento de 1,5 e margens Esquerda e Superior de 3cm - margens Direita e Inferior de 2cm), no cabeçalho escrevam o Nome, número e a Série, escrevam também o título da atividade. O prazo de entrega desta atividade será até o dia 22/06, segunda-feira.
Até mais e bons estudos.

3 ano do ensino médio.

Trabalhando conceitos.


COMPREENDENDO CRITICAMENTE O PENSAMENTO DO CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES

            Na aula anterior vimos que o conceito de civilização é antigo e apresenta uma complexidade de análise que perpassa o conhecimento filosófico, antropológico, sociológico e político, abrangendo um longo período histórico que remonta a antiguidade. Vimos também que o conceito de civilização apresenta uma estrutura básica que diferencia os grupos humanos em sua organização social política, no pensamento filosófico-religioso e no registro de suas relações, a escrita. A partir dessa classificação identificamos dois tipos de sociedade, a sociedade moderna e a sociedade tradicional, veja que essa classificação não faz destaque ao termo civilização, pois este termo tem uma construção eurocêntrica que remonta o período dos Impérios Coloniais e Neocoloniais onde o termo de cunho positivista de civilização era utilizado ideologicamente para segregar e legitimar a dominação dos povos de outros continentes.
            A partir da análise do conceito de Choque de Civilizações defendido pelo pesquisador Huntington, vimos que este pensamento apresenta problemas que reduz os conflitos mundiais em causas meramente culturais e religiosas. É preciso destacar que este tipo de argumento também apareceu na época dos grandes impérios industrias dos séculos XVIII e XIX, com a utilização ideológica do conceito de civilização ao implementar a ideia de superioridade da Europa em termos cultuais e tecnológico ao ponto de cunharem o seguinte pensamento: levar a civilização aos povos que vivem em condições primitivas.
            Essa foi a marca eurocêntrica do segregacionismo, mas que apresentava um propósito bem definido de garantir o desenvolvimento econômico e a elevação do poder das recentes nações industrializadas do século XIX, que promoveram a colonização com objetivo de se apropriarem dos recursos naturais necessários a produção industrial.
            Na fase contemporânea do capitalismo neoliberal, o discurso civilizatório deu lugar ao discurso de uma construção harmoniosa e colaborativa entre os povos, não reconhecendo as suas singularidades culturais, colocando a “homogeneidade” das religiões monoteístas como um problema que poderia gerar conflitos mundiais, um discurso sustentado pela ONU e que também apresenta um argumento ideológico, pois tem como objetivo velar as causas que de fato segregam e provocam conflito entre os povos, ou seja, a concentração de poder e os interesses econômicos entre as nações.
            Portanto, o conceito de choque de civilizações defendido por Huntington aparece como uma redefinição do contexto da Guerra Fria, ou seja, no qual os conflitos e as guerras são sustentadas por disputas de causas ideológicas, deste modo, não considera os fatores sociais e econômicos dos atuais conflitos.

[...] Edward Said afirma que, tanto no contexto colonial como também no pós-colonial, existiram dois encaminhamentos retóricos quando o assunto era a cultura geral ou a especificidade civilizacional. Num flanco, um discurso utópico que defendia a harmonia, apontando para a afirmação de um padrão geral de integração entre todos os povos; noutro, um segundo discurso que reconhecia a especificidade das civilizações e que, por considerá-las ciosas de suas tradições religiosas monoteístas, apontava que chegariam a um estado de rejeição mútua que deflagraria a guerra contra as demais. Para exemplificar o primeiro tipo discursivo, Said lembra a linguagem e as instituições das Nações Unidas surgidas logo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), além dos vários esforços que, a partir dela, foram originados em prol de um governo mundial fundamentado na coexistência, nas limitações voluntárias da soberania e na integração harmoniosa de povos e culturas. Quanto ao segundo tipo discursivo, o autor aponta que foi o nascedouro da teoria e da prática da Guerra Fria, ilustrando-o ainda, em tempos mais recentes, com a ideia de choque de civilizações.
Com base num trecho que se encontra na página 317 da obra de Edward Said, considere que este autor interpretou a teoria de Huntington como uma versão renovada da tese da Guerra Fria, pois entende que os conflitos do mundo atual e do futuro continuarão a ser essencialmente ideológicos, mais do que econômicos e sociais.
Por último, destaque que Edward Said lembra que a argumentação de Huntington falha por tratar a cultura como algo monolítico, imutável e homogêneo, ou seja, por não considerar as inquietações existentes sempre dentro de cada cultura. Além disso, Said aponta que a tese do “choque de civilizações” fundamenta-se na perspectiva de uma separação rigorosa entre diferentes culturas, desconsiderando os diversos fluxos que caracterizam o mundo de hoje, o que torna impossível a qualquer cultura manter-se completamente isolada das outras (por exemplo, as migrações, as misturas e o intercâmbio de culturas), (SÃO PAULO, 2017, p.57-58) [...]

            O ataque terrorista que atingiu a estrutura das duas torres do Word Trade Center em 2001, destruindo um grande complexo de edifícios e matando milhares de pessoas em pleno território estadunidense, marcou de forma emblemática os novos conflitos do mundo Pós-Guerra Fria e do surgimento de um novo inimigo que ameaça a “harmonia” de um mundo “moderno” com bases “democráticas” e “solidárias”.



A partir de nossos estudos compreendemos que o problema do terrorismo não está restritamente ligado a questão do embate cultural entre Ocidente e Oriente, sabemos que o estranhamento cultural entre os diversos povos existem, mas essas diferenças não promovem e nunca foram suficientemente capazes de promover uma segregação entre os povos ao ponto de eliminar o intercambio, o diálogo e a difusão entre as diversas culturas.
            De acordo com Edward Said, o Orientalismo é uma ideia forjada pelo Ocidente com objetivos claros de segregar em defesa dos interesses econômicos, essa construção ideológica de um Oriente exótico, não moderno, fora de um padrão civilizacional corresponde a uma recorrência discursiva e sintomática da Era Moderna iniciada pelas Colonizações Ultramarinas de um pré-capitalismo mercantilista do século XVI, perpassando as fases Imperialista Neocolonial de um capitalismo industrial dos séculos XVIII e XIX, da fase Imperialista Pós-Colonial de disputa Bipolar ideológica ao atual momento de uma Hegemonia global do Capital Neoliberal.

Atividade

1-Observando as imagens do ataque das Torres gêmeas, procure discorrer sobre o simbolismo expresso pelas mesmas, ou seja, o que elas representavam?

2-É possível afirmar que existe um choque de civilizações com conflitos e guerras exclusivamente ideológicas? De que forma a resposta da primeira questão justificaria a resposta desta segunda questão? 

Comentários