A FORMAÇÃO NACIONAL:
A formação da diversidade brasileira
Procuraremos aqui refletir sobre a formação da diversidade social no Brasil a partir da
figura do estrangeiro tal como analisada por Georg Simmel e discutir: quem é o estrangeiro do
ponto de vista sociológico, como o estrangeiro também pode ser visto como o estranho e qual é
a diferença entre o olhar do estrangeiro para a realidade e o olhar dos que ali se encontram há
mais tempo.
O estrangeiro
Muitos são os autores que tratam o tema da migração, imigração e emigração.
Desenvolveremos a reflexão a partir da análise que o sociólogo Georg Simmel faz do
estrangeiro, com o objetivo de pensar como a mobilidade espacial de pessoas provoca mudanças
nas sociedades e nas relações sociais. Quem é Georg Simmel (1858-1918)?
Ele nasceu na Alemanha, filho de judeus convertidos ao protestantismo – religião em
que Georg Simmel foi batizado. O fato de vir de uma família com origem judaica, mesmo que
convertida, era motivo de preconceito. Em virtude de tal preconceito e do fato de ser um crítico
dos valores dominantes em sua época, só conseguiu o cargo de professor contratado em tempo
integral em 1914, apenas quatro anos antes de morrer de câncer, em 1918. Antes disso,
permaneceu durante muitos anos como professor não contratado. Só recebia se os alunos se
inscrevessem nos seus cursos. Ainda assim, suas aulas estavam sempre repletas, pois era visto
como um bom professor e homem brilhante. Era assim que ele conseguia algum ganho, apesar
de seu sustento vir muito mais de uma herança que recebera pelo falecimento do seu tutor
(MORAES FILHO, 1983).
Simmel não procurou criar uma grande teoria. Na verdade, era a favor de escrever
ensaios (pequenos textos instigantes sobre um tema) e por isso trabalhou os mais diferentes
temas, como: a ponte e a porta, o adorno, o jarro, a coqueteria, a filosofia de uma forma geral
(do dinheiro e do amor, por exemplo), entre muitos outros. O mais importante é enfatizar que,
de certa maneira, por ser ex-judeu, Simmel sentia-se um estrangeiro, pois era tratado como tal.
Compreende-se, assim, a importância do estrangeiro não apenas em sua obra, como também em
sua vida.
Destacamos, ainda, que, Simmel distinguiu o viajante do estrangeiro. O estrangeiro,
para Simmel, é aquele que chega e não vai embora. Logo, não é um mero viajante. É a figura
que se muda de um lugar para outro, para ali residir, e não o turista. Como estrangeiro, sua
posição em relação ao grupo é marcada pelo fato de não pertencer ao grupo desde o início do
mesmo ou desde que nasceu.
Simmel não aborda esse aspecto, mas é válido destacar que, em alguns casos, você pode
até ter nascido no lugar e mesmo assim sentir-se e ser considerado pelos outros como
um estrangeiro. Isso pode ocorrer por conta de seu biotipo, de hábitos e costumes que o
diferem dos demais. A mudança também não precisa ser necessariamente de país. Pode
ser de Estado, cidade ou bairro. É por isso, por exemplo, que muitos jovens loiros no
Brasil recebem o apelido de “alemão” mesmo que, muitas vezes, não tenham nenhuma
ascendência alemã. Há ainda outros que são chamados de “japoneses” por terem traços
que lembram os orientais, embora tenham nascido aqui e não tenham antepassados
japoneses
Destaca-se ainda a ambiguidade do estrangeiro em relação ao grupo. Ele é um elemento
do grupo, mesmo que não se veja como um, ou que não seja visto como parte dele pelos demais
membros. Ou seja, é um elemento do conjunto, assim como são os indigentes ou os mendigos e
toda espécie de “inimigos internos” (MORAES FILHO, 1983, p. 183).
Com isso, Simmel quis dizer que mesmo aqueles que não são queridos por um grupo,
ou não são tratados como iguais, também fazem parte dele. O estrangeiro tem com o grupo, ao
mesmo tempo, uma relação de proximidade e envolvimento e de distância e indiferença. Ele
vive cotidianamente com aquelas pessoas; logo, está relativamente próximo e envolvido com
elas.
Contudo, como, com frequência, é tratado tal qual um “de fora”, e se sente à parte do
grupo, pode, muitas vezes, desenvolver um sentimento de distância e indiferença (MORAES
FILHO, 1983, p. 184-186). O estrangeiro é, portanto, o estranho portador de sinais de diferença,
como a língua, os costumes, a alimentação, os modos e as maneiras de se vestir.
Ele não partilha tantos hábitos, costumes e ideias com o grupo; em face disso, tampouco
partilha certos preconceitos e não se sente forçado a agir como um de seus membros. Os laços
que o unem são muitas vezes mais frouxos do que aqueles que unem os outros membros que ali
estão desde o seu nascimento (MORAES FILHO, 1983, p. 184-185).
ATIVIDADES:
1-) Com base no que vimos a respeito dos conceitos imigrantes, emigrantes e migração, segundo a visão do sociólogo Georg Simmel, qual é visão dele a respeito do estrangeiro? Explique.
2-) Segundo Simmel, qual é a distinção entre o viajante e o estrangeiro? Explique.
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