Continuidade e ruptura de Augusto dos Anjos - 2ªEM - Língua Portuguesa - ProfªLucielma

  

Nome da professora: Lucielma  


Disciplina: Língua Portuguesa


Série: 2ªF Ensino Médio 


Assunto: Continuidade e ruptura de Augusto dos Anjos  


Data: 17/08/2020 

  

  Olá estudantes!

  Desejo que estejam bem, desfrutando de ótima saúde! 

  Vamos conhecer o poeta enigmático Augusto dos Anjos, sua forma peculiar de escrever que propicia a reflexão em seus leitores.

   Bom estudo!

   Se cuidem! 


Devolutiva da atividade enviada até o dia 24/08/2020 


Enviar no e-mail - lucielma@prof.educacao.sp.gov.br 


Continuidade e ruptura

Augusto dos Anjos, o mais sombrio dos poetas brasileiros, foi também o mais original. Sua obra poética, composta por apenas um livro de poemas, não se encaixa em nenhuma escola literária, embora tenha sido influenciado por características do Naturalismo e do Simbolismo, a produção única de Augusto dos Anjos não pode ser enquadrada em nenhum desses movimentos. É por isso que classificamos o poeta juntamente aos seus contemporâneos do Pré-Modernismo.

Mesclando termos filosóficos embebidos em puro pessimismo e vocabulário científico, que raramente seriam encontrados em textos poéticos, Augusto dos Anjos escreveu uma poesia violenta, visceral, atravessada por uma angústia cósmica, por uma eterna lembrança sepulcral.

Biografia de Augusto dos Anjos                       

 

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, no Engenho Pau D’Arco, Vila do Espírito Santo, atual município de Sapé, na Paraíba. Filho de antigos senhores de engenho, o poeta vivenciou, desde a infância, a lenta decadência de sua família. O pai, bacharel em Direito, ensinou-lhe as primeiras letras até seu ingresso no Liceu Paraibano para cursar o ensino secundário.

Em 1903, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife. Nesse período, começou a publicar alguns poemas no jornal paraibano O Comércio. Os versos chamaram a atenção dos leitores, principalmente de maneira negativa: o poeta foi tido como histérico, desequilibrado, neurastênico, qualidades que lhe seriam atribuídas ao longo da vida. Na Paraíba, foi apelidado de “Doutor Tristeza”.

Formado em 1907, Augusto dos Anjos nunca exerceu a profissão de advogado ou magistrado. Foi de Recife para a capital paraibana, onde passou a lecionar Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Em 1910, casou-se com Ester Fialho, com quem teve três filhos – o primeiro deles morreu ainda recém-nascido.

Desentendimentos com o governador da Paraíba levaram o poeta a se transferir para o Rio de Janeiro, onde passou a lecionar Geografia depois de cerca de um ano desempregado. Em 1912, publica seu único livro, Eu, com a ajuda financeira do irmão. Mas não obteve nenhum reconhecimento do público leitor – exceto o repúdio da crítica de seu tempo, apegada ao lirismo comedido e parnasiano.

Em junho de 1914, mudou-se para Leopoldina (MG), assumindo o cargo de diretor de um grupo escolar na cidade, mas uma pneumonia dupla interrompeu a trajetória do poeta, que faleceu com apenas 30 anos, em 12 de novembro de 1914.

 

Estilo de Augusto dos Anjos

 

Augusto dos Anjos é provavelmente o mais original dos poetas brasileiros. Embora tenha recebido algumas influências do Simbolismo e do Naturalismo, movimentos poéticos em voga na época, seu estilo literário não se encaixa em nenhuma das escolas.

Pessimista, cósmica, paradoxal, mórbida e angustiante, a poesia de Augusto dos Anjos é feita de um vocabulário científico misturado com uma tristeza profunda. O questionamento existencial encontra a ciência e a Teoria da Evolução de Darwin em uma combinação insólita, jamais vista antes, que constantemente relembra a fatal finitude humana nos termos da decomposição da matéria, da carne putrefata que encerra o tempo do vivente.

O amor, o prazer, a volúpia não são senão uma luta orgânica das células, como o é toda a existência humana, destinada a tornar-se cadáver e alimentar os vermes decompositores. E a própria construção dos versos de Augusto dos Anjos exprime essa luta: tudo é dito de maneira duracheia de excessos e hipérboles, em métrica rígida.

Trata-se de uma estética da podridão, da agonia, da deformação, misturando termos filosóficos e biológicos que eclodem em um grito violento em busca das razões da existência humana. Influenciada por Arthur Schopenhauer, cuja teoria filosófica percebia uma perene impossibilidade de felicidade, já que a vida humana se resume a um pêndulo entre o sofrimento e o tédio, a poesia de Augusto dos Anjos reverbera uma “eterna mágoa”, uma dor existencial perene a que estão implacavelmente submetidos todos os seres.

 

                                              Atividade 


1- Análise o poema e escolha a alternativa correta:

 

Queixas noturnas

Quem foi que viu a minha Dor chorando?!
Saio. Minh’alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre esses monstros, ando!

[...]

O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!

[...]

Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.

[...]

Sobre histórias de amor o interrogar-me
É vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.

O amor tem favos e tem caldos quentes,
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.

Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!

[...]

Melancolia! Estende-me a tu’asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!

Vocabulário
Improfícuo:
 improdutivo, ineficaz, inútil

 

a) O poeta retrata alegria, emoção com as experiências vividas.

b) O poeta é consumido pela dor e tristeza.

c) O poeta lamenta a dor, agonias, aflições, monstros, doenças e tristeza intensa.

 

2) Sobre a obra de Augusto dos Anjos, assinale a alternativa correta:

 

a) Unindo o Simbolismo ao cientificismo naturalista, Augusto dos Anjos apresenta grande originalidade em seus versos, cujo ineditismo figura como uma experiência única na literatura mundial.

b) Influenciado pelo pessimismo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, Augusto dos Anjos deixa expresso em sua poesia seus anseios e angústias existenciais.

c) Destacou-se no gênero conto, sem grandes pretensões de promover renovação estética. Criticou a falta de uma identidade genuinamente nacional através de uma linguagem inovadora e irônica.

d) Pode ser situado entre os escritores pré-modernistas devido ao caráter sincrético de sua poesia, que não priorizava uma única influência.

e) A poesia de Augusto dos Anjos emprega termos considerados “baixos” e “antipoéticos”, sobretudo se comparados à linguagem literária vigente, provocando grande estranhamento no público e na crítica especializada.

 

Saia de mim como suor
Tudo o que eu sei de cor
Sai de mim como excreto
Tudo que está correto
Saia de mim [...]
Tudo o que for perfeito
Saia de mim como um grito
Tudo o que eu acredito
Tudo que eu não esqueça
Tudo que for certeza

Saia de mim vomitado,
Expelido, exorcizado
Tudo que está estagnado
Saia de mim como escarro [...]
Sangue, lágrima, catarro

Saia de mim a verdade!”.

Saia de mim – Arnaldo Antunes 


3) Podemos perceber, nos versos da música Saia de mim, do grupo Titãs, uma linguagem que tem nitidamente como intenção chocar e subverter valores sociais regidos por uma tendência politicamente correta. As palavras incomuns utilizadas nos versos denunciam uma forte influência do seguinte poeta:

 

a) Paulo Leminski.

b) Haroldo de Campos.

c) Gregório de Matos.

d) Ferreira Gullar.

e) Augusto dos Anjos.


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