Professor Igor - Língua Portuguesa - 3ºA ( Atividade 3 - Fernando Pessoa e seus heterônimos )

 Professor Igor  - Língua Portuguesa

3ºA

Língua Portuguesa

Assunto: Modernismo em Portugal: Fernando Pessoa 

                                            FERNANDO PESSOA ( 1888 - 1935)

   Fernando Pessoa é um dos mais importantes escritores portugueses do modernismo e poetas de língua portuguesa. Destacou-se na poesia, com a criação de seus heterônimos sendo considerado uma figura multifacetada. Trabalhou como crítico literário, crítico político, editor, jornalista, publicitário, empresário e astrólogo.

 Ele é dono de uma vasta obra, ainda que tenha publicado somente 4 obras em vida. Escreveu poesia e prosa em português, inglês e francês, além de ter trabalhado com traduções e críticas.

   Sua poesia é repleta de lirismo e subjetividade, voltada para a metalinguagem. Os temas explorados pelo poeta são dos mais variados, embora tenha escrito muito sobre sua terra natal, Portugal.

Os Heterônimos de Fernando Pessoa são personalidades criadas por ele próprio e que assinam cada qual as suas obras. Para tanto, esses escritores têm biografia e estilo particular.

Estudos indicam que Fernando Pessoa assinou textos com cerca de 70 nomes diferentes. Há quem considere que todos eles são heterônimos de Pessoa.

Outros afirmam que os considerados por muitos os seu principais heterônimos resumem os que realmente são heteônimos de Fernando Pessoa, apenas três.

Isso porque o poeta teria criado apenas a biografia de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

ALBERTO CAEIRO

Alberto Caeiro (1889-1915) nasceu em Lisboa. É o mestre dos heterônimos, tendo como discípulos Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

Passou a sua vida no campo e ficou órfão de pai e mãe muito cedo, passando a viver com uma tia avó. Morreu de tuberculose.

Apesar da data indicada para o seu falecimento, há registro de poemas de Alberto Caeiro do ano 1919.

Caeiro valoriza a simplicidade e demonstra o seu gosto pela natureza. Para ele, mais importante do que pensar é sentir, delegando todo o conhecimento à experiência sensorial.

RICARDO REIS

Ricardo Reis nasceu em 1887 no Porto, não sendo conhecida a data da sua morte.

Estudou Medicina e, antes, em colégio de jesuítas. Foi viver no Brasil em 1919, após a instauração da república em Portugal (1910), porque era monarquista.

Tal como Caeiro valoriza a simplicidade, Ricardo Reis gosta do que é simples, mas num sentido de oposição ao que é moderno.

Tradicional, para ele, a modernidade é uma mostra de decadência. Sua linguagem é clássica e seu vocabulário, erudito.

ÁLVARO DE CAMPOS

Álvaro de Campos nasceu em Tavira, Portugal, no ano 1890. A data do seu falecimento não é conhecida.

Formado em Engenharia na Escócia, não exerceu a profissão.

Álvaro de Campos valoriza a modernidade e é um pessimista, pois apesar do gosto pelo progresso, o tempo presente o angustia.

Seu estilo pode ser definido em três fases: decadentista, progressista e pessimista.

SEGUEM DOIS VÍDEOS SOBRE O TEMA, PORÉM QUAISQUER DÚVIDAS POSTERIORES, PODEM ME CHAMAR:

     https://youtu.be/K_fwugbGeqU                                           

   https://youtu.be/xNNssnzpuso

                                                       EXERCÍCIOS

Leia o poema a seguir:

                           Tabacaria

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

[...]

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

[...]

(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.


Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

[...]

Fiz de mim o que não soube,

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

[...]

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.

Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.

Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.

A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.

Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente


Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,

Sempre uma coisa tão inútil como a outra,

Sempre o impossível tão estúpido como o real,

Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,

Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),

E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.

Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.

Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,

A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira

Talvez fosse feliz.)

Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.


O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).

Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.

(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


                                                         Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa:

                                                    Ática, 1944 (imp. 1993). - 252. Obra poética, cit. p. 362-6.


1) O eu lírico do poema faz considerações a respeito de si mesmo, de sua identidade e de sua relação com o mundo.

a)   Como o eu lírico se sente diante da realidade em que vive?



b)   Tendo como referência a questão da identidade individual e social de cada ser humano, explique a crítica e a autocrítica existente nestes versos: “Quando quis tirar a máscara, / Estava pegada à cara”.


2) De acordo com o texto, o que significa as palavras:

a) Algibeira: 

b) Dominó:


3) No texto, são feitas três referências à metafísica. Metafísica (além da física), no sentido habitual, é todo conhecimento ou especulação filosófica relacionados com o ser ou com sua transcendência. No poema, é com certo desprezo que o eu lírico trata a metafísica, como no verso “Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates”.

a)  Apesar disso, o eu lírico pratica a metafísica no poema? Justifique.


b) Qual a vantagem, segundo a visão expressa no texto, em comer bombons, como faz a menina, ou ser como “o Esteves sem metafísica”?


c) Com base na opinião do eu lírico sobre a metafísica, explique os sentidos dos versos: “Se eu casasse com a filha da minha lavadeira / Talvez fosse feliz”.


4) Observe que, na 5ª estrofe, o eu lírico faz uma verdadeira “viagem” mental, especulando sobre seu próprio futuro e sobre o futuro do mundo. Suas reflexões são interrompidas por um fato concreto; um homem (Esteves) entra na tabacaria, fazendo com que a “realidade plausível” caia sobre o eu lírico. Este, agora “acordado”, diz: “Semiergo-me enérgico, convencido, humano, / E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário”.

a)   Com base nesses versos, levante hipóteses: É provável que eu lírico pretendesse tratar de temas metafísico ou de temas reais? Por quê?


b)Ele conseguiu seu objetivo? Justifique.



Data da devolutiva: 08/09, por e-mail institucional igorlopesferreira@prof.educacao.sp.gov.br


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