Movimento literário realista - 2ªF Ensino Médio / Professora Lucielma

  

Nome da professora: Lucielma 


Disciplina: Língua Portuguesa 


Série: 2ªF 


Assunto: Movimento literário realista 


Data:14/09/2020 


Olá estudantes! 

Desejo que estejam bem, desfrutando de ótima saúde! 

 Vamos trabalhar com o movimento literário realista que marcou a observação e revelação do comportamento da sociedade da época. A tecnologia e a ciência incorporada nas obras realistas. Dúvidas postem nos comentários do blog ou enviem e-mails.

Até breve!

Se cuidem! 


Devolutiva da atividade enviada até o dia 21/09/2020 

Enviar a atividade no e-mail - lucielma@prof.educacao.sp.gov.br  


Movimento literário realista

realismo, movimento estético predominante no mundo ocidental no último quartel do século XIX, surgiu como uma onda de oposição à subjetividade e ao individualismo da tendência artística anterior, o romantismo. Com a intenção de fazer da arte uma representação fidedigna e verossímil da realidade, escritores, pintores, escultores, músicos e dramaturgos privilegiaram a objetividade em suas obras, atentos à veracidade das situações cotidianas.

 

Contexto histórico do realismo

 

Madame Bovary, romance de Gustave Flaubert, publicado em 1857, é considerado pela crítica literária a obra inaugural do movimento realista. Nesse ano, morria Auguste Comte, fundador da filosofia positivista, a essa altura bastante popular na Europa.

positivismo comteano teve grande influência nas obras do realismo e no pensamento da época de modo geral: tratava-se de uma concepção de mundo científica, que propunha que a apreensão da realidade deveria ser objetiva, empírica, como nos procedimentos de análise das ciências naturais. O progresso, ideal maior dos positivistas, só viria por meio da ciência.

O continente europeu vivenciava a chegada da Segunda Revolução Industrial, que trazia consigo uma urbanização massiva, bem como jornadas de trabalho extenuantes e um crescimento desordenado das cidades, além da sujeira proveniente dos resíduos da produção fabril. O salto tecnológico associado ao desenvolvimento industrial propiciou diversas descobertas e invenções que modificaram a maneira como os cidadãos viviam, tais como a lâmpada elétrica, o rádio e o automóvel moderno movido à gasolina.

Outra teoria em voga na época era o determinismo científico, que entendia que o comportamento humano é determinado pelas condições do meio, outro pensamento preconceituoso à serviço da estratificação social.

Filhos de seu tempo, os realistas abraçaram a ciência como grande patrona do século XIX, substituindo as idealizações e anseios de liberdade do romantismo por uma postura analítico científica, dissecando a realidade que se via em constante transformação.

 

Características do realismo

 

·         Valorização da objetividade e dos fatos;

·         Impessoalidade, apagamento das ideias do autor;

·         Descrições de tipos sociais ou situações típicas;

·         Fim das idealizações: retratos de adultério, miséria e fracasso social;

·         Prevalência das formas do romance e do conto;

·         Frequentes críticas às hipocrisias da moralidade da nova classe dominante, a burguesia;

·         Aceitação da realidade tal como ela é, em oposição aos anseios de liberdade dos românticos;

·         Esteticismo: linguagem culta e estilizada, escrita com proporção e elegância;

·         Tentativa de explicar o real, recorrendo muitas vezes à ciência ou ao determinismo;

·         Abordagem psicológica das personagens como composição da realidade que veem.

 

Realismo na Europa

 

Nascido na França, herdeiro dos romances de Balzac e Stendhal, o realismo consolidou-se como movimento literário a partir da obra de Gustave Flaubert. Flaubert é considerado o pai do realismo. Sua Madame Bovary (1857) foi um escândalo à época, pois centrava o enredo em Emma, uma moça sonhadora que esperava encontrar no matrimônio a grande realização de sua vida, mas, ao desposar Charles Bovary, desencanta-se rapidamente com o casamento e com a mediocridade do rapaz, um jovem cirurgião sem talentos e de mentalidade obtusa.

As longas descrições de Flaubert, muito pormenorizadas e em linguagem trabalhada com excepcional afinco, revelam então Emma em busca de algo que a interesse, o que a leva a jogos de sedução e ao adultério. Trata-se de uma dessacralização do casamento enquanto encontro de almas do amor romântico.

Em Portugal, entende-se que o movimento tem início em 1865, com a Questão Coimbrã, que começa com um prefácio do romântico Feliciano de Castilho criticando avidamente a nova tendência literária que aparecia na poesia de Antero de Quental. Para ele, a nova geração carecia de bom senso e de bom gosto.

O principal romancista do realismo português foi Eça de Queirós, que além de escritor era diplomata, tendo viajado para diversos lugares, como Cuba, Egito e América do Norte. Sua obra pode ser dividida em três fases: uma de preparação, composta majoritariamente por produções veiculadas na imprensa (1866-1867) e alguns textos ainda de cunho romântico; uma de realismo agudo, quando escreve os grandes romances críticos O crime do padre Amaro (1875/1876/1880), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888); e uma de maturidade, caracterizada por um humanismo saudosista, época em que publica A ilustre casa de Ramires (1900) A cidade e as serras (1901).

 

Realismo no Brasil

 

Enquanto o movimento europeu era norteado pelas mudanças do avanço industrial, que já alçava sua segunda etapa, o Brasil, por sua vez, iniciava um lento processo de modernização, atravancado pelo ranço colonial que se mantinha na política do Segundo Reinado e na manutenção da mão de obra escrava. Em sua maioria, os escritores realistas brasileiros foram republicanos e abolicionistas, não raro abordando em suas obras esses ideais.

O realismo brasileiro tem início com os círculos literários nordestinos: primeiramente em Fortaleza (CE), com os grupos Fênix Estudantil (1870), Academia Francesa (1872) e Padaria Espiritual (1892), que geraram autores célebres como Capistrano de Abreu, Rodolfo Teófilo, Paula Nei, entre outros. Também nos anos de 1870 surge a chamada Escola do Recife, movimento intelectual pernambucano liderado por Tobias Barreto e Sílvio Romero, grandes influenciadores do pensamento realista nacional.

Os três principais nomes do realismo brasileiro são o maranhense Aluísio Azevedo, o carioca Machado de Assis e o angrense Raul Pompeia. Se quiser aprofundar-se nesse tema, acesse: Realismo no Brasil.

 

·         Aluísio Azevedo

 

Aluísio Azevedo, contudo, diferencia-se dos outros dois por sua estética de tendência naturalista. Corrente literária fundada pelo francês Émile Zola, que, embora se assemelhe ao realismo e intente uma visão objetiva da realidade, tem características próprias: no Naturalismo prevalecem as descrições animalescas da personalidade humana, a abordagem patológica das personagens, a ênfase nos instintos, perversões e comportamentos sexuais, bem como a explicação dos fatos apoiada no determinismo científico. É o caso das obras Casa de pensão (1883) e O cortiço (1890), célebres produções de Azevedo.

No trecho a seguir, o autor narra o amanhecer no cortiço. A caracterização de homens e mulheres como machos e fêmeas, aglomerados num “zunzum”, molhando o pelo, bem como a escolha dos verbos “fossando e fungando” e as crianças “se despachando ali mesmo”, sem uso das latrinas, remete ao comportamento humano relacionado às excrescências, elemento natural que nos aproxima da vida animal.

 

“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao

trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.”

(Aluísio Azevedo, O cortiço)

 

 

·         Raul Pompéia

 

Outro é o universo de Raul Pompeia, autor que morreu prematuramente, deixando poucas obras em vida. Seu romance mais aclamado, O Ateneu (1888), escrito em primeira pessoa, versa sobre as memórias de Sérgio, que recorda o período adolescente em que esteve no colégio interno. Já adulto, o narrador-personagem vê-se confuso e rebela-se pela incapacidade de modificar o passado, ou de reagir de outra forma.

O universo opressor do colégio mostra a Sérgio uma infinidade de novas existências, desconhecidas de sua vivência doméstica — cada personagem é um tipo social, uma caricatura, desde o diretor Aristarco, cujo interesse único é o lucro, até Franco, menino esquecido pelos pais, que não pagavam o colégio, fazendo com que sofresse perseguições de alunos e mestres.

As técnicas narrativas de Pompeia aproximam a forma do texto da  mesma da lembrança: esfumaçada, incerta, interrompida, ao mesmo tempo que a linguagem também é muito expressiva; alguns críticos consideram haver traços do impressionismo e do expressionismo na obra. 

 

Machado de Assis

 

Machado de Assis, por sua vez, é aclamado como o maior escritor brasileiro de todos os tempos, principalmente pela riqueza com que explora as técnicas narrativas e pelo retrato apurado da psique humana. Autor de romances, contos, crônicas, peças de teatro e textos de crítica literária e teatral, além de poesias, sua prosa realista, que lhe rendeu o posto de glória na literatura brasileira, passou a ser produzida a partir de 1870.

Em linguagem direta, mas elaborada, as obras machadianas conduzem à reflexão a partir de cenas do cotidiano. Não é a história que se apresenta como novidade, mas o modo de narrar. Geralmente os personagens e situações são banais, mas a maneira como Machado relata-os é que traz consigo a novidade genial: trata-se de um realismo que leva em consideração a condição psicológica das personagens enquanto modo como elas apreendem a realidade.

Machado também é dono de um humor peculiar e de uma ironia sutil, presentes em boa parte de sua obra, dando a situações críticas uma certa leveza, e faz uso frequente da metalinguagem, ou seja, refere-se à elaboração do livro no próprio livro, como no exemplo a seguir:

“Vim... Mas não; não alonguemos este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escrever, e a pena vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor. Capítulos compridos quadram melhor a leitores pesadões; e nós não somos um público in-folio, mas in-12, pouco texto, larga margem, tipo elegante, corte dourado e vinhetas... Não, não alonguemos o capítulo.”

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

 

Resumo do realismo

·         O realismo foi uma escola estética com expressões em diversos campos da arte, como a literatura, as artes plásticas e a dramaturgia;

·         Surgiu na segunda metade do século XIX, em oposição à estética do romantismo;

·         Valorizava a objetividade, o factual e as situações cotidianas;

·         Pretendia expor os fatos tais como eles são, sem idealizações;

·         Na literatura, o gênero realista por excelência foi a prosa;

·         São grandes nomes do realismo europeu: Gustave Flaubert, Charles Dickens, Fiódor Dostoiévski;

·         São grandes nomes do realismo brasileiro: Aluísio Azevedo, Raul Pompeia, Machado de Assis.

 

                                                              Questões  

1) (FGV-SP) No romance O cortiço, Aluísio Azevedo estabelece uma forte ligação entre o meio em que vivem as personagens e sua vida material, moral e psicológica. Tal relação apoia-se nos princípios

a) do livre-arbítrio religioso.

b) do determinismo científico.

c) do sentimentalismo romântico.

d) do culto à natureza.

e) do ideário modernista.

2) (PUC-RS) Sobre O Ateneu, de Raul Pompéia, é correto afirmar que:

a) apresenta todas as características do realismo, exceto a influência do meio sobre o comportamento do indivíduo.

b) tem como matéria-prima as recordações e impressões da personagem principal.

c) constitui-se num documento fotográfico da realidade objetiva.

d) segue uma ordem cronológica apoiando-se no real.

e) não se atém a reflexões críticas em relação ao contexto social.

3) (Enem 2001) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...

b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...

c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno...

d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...

e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.


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